domingo, 26 de abril de 2015

Por que os textos dos cenários devem ser redigidos de forma lúdica?

Questionada por uma amiga se estava correto usar a palavra “lúdica” para caracterizar o documentário “2075 - Les temps changent”, me levou a escrever esse texto, que pode servir como alerta para os cenaristas principiantes.

Como o futuro não existe, estamos somente aptos a contarmos histórias a respeito dele. Essas histórias têm como objetivo proporcionar análises das possibilidades de futuro que se configuram a partir do presente, estudá-las e, assim, estarmos mais preparados para tomarmos decisão frente a um futuro, que é múltiplo e incerto por definição.

Como nenhum cenarista possui bola de cristal, seu objetivo é deixar claro que não se trata de previsão, mas de possibilidades hipotéticas a respeito do futuro. Para tanto, criamos personagens, cenas envolventes e marcantes que chamem a atenção das principais questões estratégicas e seus possíveis comportamentos futuros. É importante deixar claro para o leitor que não é uma previsão do futuro, não estamos afirmando o que vai acontecer, mas uma forma de representar os possíveis acontecimentos futuros.

Essas histórias a respeito do futuro devem ser capazes de gerar aprendizado organizacional. Cada cenário deve ser vivenciado pelos estrategistas da organização para que possam experimentar os resultados de suas estratégias antes de colocá-las em prática. Assim, espera-se a construção de objetivos estratégicos que contribuam para a construção do futuro desejado. Em muitas organizações essa “vivência do futuro” é feita por meio de jogos.

Segundo o dicionário a palavra lúdico é “um adjetivo masculino com origem no latim “ludos”, que remete para jogos e divertimento”. Uma atividade lúdica é uma atividade de entretenimento, que dá prazer e diverte as pessoas envolvidas. O conceito de atividades lúdicas está relacionado com o ludismo, ou seja, atividades como jogos e o ato de brincar. Os conteúdos lúdicos são muito importantes na aprendizagem, pois é uma forma de  incutirmos nas crianças a noção de que aprender pode ser divertido. As iniciativas lúdicas nas escolas potenciam a criatividade, e contribuem para o desenvolvimento intelectual dos alunos. Um texto ou discurso lúdico é uma produção cultural que é capaz de divertir o leitor ou ouvinte. É essencial para chamar a atenção e para persuadir outras pessoas.

Nesse contexto, os enredos dos cenários devem ser redigidos, sim, de forma lúdica. Os tempos verbais devem estar no presente e no passado, mesmo contando histórias a respeito do futuro, como no caso do documentário citado. É como se o escritor estivesse posicionado no final do horizonte temporal e contando os principais acontecimentos históricos ocorridos até a chegada naquele momento futuro. Deve usar personagens fictícios e realmente contar histórias que entretenham e gerem aprendizado para os leitores.

Um bom exemplo são os cenários construídos pelo National Intelligence Consul, que utiliza na introdução de cada um dos quatro cenários construídos, inclusive, os termos “cenário hipotético” e “cenário fictício”. Destaco que, no documento “Mapping the global future: report of the National Intelligence Council’s 2020 Project (Dec. 2004)”, link abaixo, um dos cenários é redigido em formato de troca de mensagens por celular entre dois traficantes de armas (ver p. 105 do documento citado).

Assim, não existe nada de errado em tratar o processo de elaboração de cenários de forma lúdica para que, dessa forma, seja incentivada a criatividade e seus resultados sirvam de inspiração para os tomadores de decisão construírem um futuro melhor, livres das amarras do presente.

Documento citado:
Mapping the global future: report of the National Intelligence Council’s 2020 Project

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